by 'mangas*

Procuras o mundo que te foge dos pés?

2.01.2011

Contaminada


Quando o coração se rasgou, o sangue, que de lá era catapultado, partiu-se também, deixando o meu corpo apodrecer.
Começou pelos pés, que não sentiam as leves ondas do mar a deslizar pela areia húmida. Depois, as pernas, que não andavam, para caminhar ao teu lado. Seguiram-se os braços, que já não mais tinham força para segurar as rosas que me davas e eu odiava, mas sinto falta. Entretanto, contaminou-me os olhos, nunca mais pude ver o rosto simpático que tens. Posteriormente, os tímpanos romperam e nunca mais saboreei a tua voz rouca. A minha boca secou, deixei de sentir a suavidade dos teus lábios. A minha memória enfraqueceu e… esqueci-me do que estava a pensar.

Segunda Pessoa


Vós, folhas, que caístes durante a Primavera,
Desconheceis o calor do sol e o brilho da noite gélida,
Não vos entristeças.

Vós, rosas, que brotam pétalas de um botão e espinhos de um pé,
Não amargureis,
Porque sereis amadas.

Vós, ventos,
Não sejais lentos, nem tenhais pressa.

Vós, aves do céu,
Não temais em fugir do gelo,
Porque ireis voltar para o fogo.

Vós, água dos oceanos,
Não se exceda, nem escasseie.

Vós, humanos da terra,
Não se odeiem, nem se destruam,
Amem-se.

Tu, luz, não desvaneças,
Ilumina as folhas, as rosas, as aves, a água e os humanos.

4.14.2010

Viver a Morte

A cada dia que passa, a verdade é sempre a mesma, nunca há sentido nas coisas que me rodeiam, nem sentimento naqueles com quem partilho a minha vida.
Nada tem mudado ao longo dos tempos, mas também não parece querer mudar. Entrementes, a mesma monotonia se tem instalado em mim, e sendo assim, cada vez mais, se torna difícil viver em sociedade e conviver com aqueles de quem gosto. É desta forma que o meu ente se sente, cada vez mais desfalecido, sem vontade de sorrir e de ser aquela que eu sempre fui. Porém, tento continuar o meu caminho, sem que ninguém perceba o que se passa comigo, sem que ninguém note a fraqueza da minha alma, nem a morte do meu cadáver.
Estes dias, em que vivo a morte, sinto-me como uma pessoa desligada, que não sabe com quem pode contar, nem o que fazer. Não sinto a morte, que me passa pelas veias, veias estas que se encontram repletas de sangue branco e vazio, rico em tristezas nele afogadas.

Desprotegida e sem mundo

Tenho me sentido cada vez mais isolada, uma vez que este abrigo não me protege da chuva, que me seca o espírito. Não me consigo erguer sem olhar para o chão e ver o mundo a fugir-me dos pés. Não encontro outra forma de me proteger deste medo, que me atormenta, a ponto de me sufocar de horror.
Tento pensar em coisas de um mundo alegre, em que tudo é preto, e não existe cor que me rache o coração. Não existe vida, nem realidades que me façam perder a vontade de viver num mundo preto, onde ninguém me possa derrubar ou mesmo matar.
Um ente como eu, não merece viver onde ninguém me respeita, onde ninguém me ama e onde ninguém nunca me vai ser capaz de amar.
Não sou capaz de olhar para trás, é lá que vejo o meu futuro triste e cruel. Ao dirigir o olhar para o que se passa à minha frente, vejo todos os maus momentos do meu passado. Apenas me resta fechar e bloquear as minhas vistas, de maneira que mais nada possa arruinar este meu mundo novo.
Viverei sozinha, sem respirar, nem amar. Vou desvaziar o coração das lamentações e renascer para um novo começo.
Vai ser este o fim do meu príncipio, que se estreia no primeiro dia a seguir ao último...

Morte dos Anjos Mórbidos

Respiro, essencialmente, desprezo nesta morte, onde todos os entes se revoltam contra mim. Não consigo confabular com ninguém, porque nem tenho voz para me expressar, nem ninguém que disponha um ouvido para me escutar. É assim que passo parte das minhas noites, uma vez que o dia não existe, nem nunca poderá existir.
Não consigo olhar para a luz, cega-me o coração e não consigo olhar para ninguem porque, simplesmente, não tenho olhos.
A minha morte é vivida às escuras,sendo cada vez mais dada às almas possuídas pelo demónio. Porém, eu continuo tomada pelos espíritos sombrios que não permitem que o meu coração se apaixone, por quem quer que seja, nem me deixam viver uma ficção, que sempre foi vivida pelo diabo.
Apaixonada? Nunca. Mas não há ninguém que goste de mim, que se digne a falar comigo, ou pura e simplesmente me consiga olhar nos olhos. Não existe nenhum anjo que em queira bem, nem que me empregue uma mão, uma mão para me apoiar nos pequenos grandes momentos de fraqueza simultaneamente mutua.
É nesta morte em que os anjos merecem morrer, espalhando sangue por toda a parte, onde apenas um Deus não chega, onde os vivos, morrem e os mortos são despejados em ocenaos opácos e entenebrecidos. E eu torno-me num espírito maligno e ensombrado finalizado pela vida...

Horizonte falecido

Vivia num lugar triste e sombrio, onde não havia sol nem luar. Desconhecia a minha origem e não conhecia o meu destino. Presenciava uma dor vinda da terra húmida, que eu calcava. Os rios secos inundavam-se de sofrimento e os céus escureciam os meus olhos. 
Não conseguia perceber a razão de viver tão solitária e de morrer de igual modo. Não tinha ninguém que me entendesse a alma, nem abrigasse o meu ser. Vivia, porém, desamparada e abandonada por alguém que nunca me chegou a conhecer. 
Teria sentido, eu viver num Horizonte de tristeza e esquecimento? Preferia viver um dia como se fosse um ano, sem existirem horas nem segundos. Optar por escorrer sangue, a viver num Horizonte morto como este, em que eu vivo...

Sangue Mal Amado

O meu sangue está destinado a uma pessoa, que não me conhece, que não me vê como me devia ver. Mas continua a ser inteiramente dele...
São anos de loucura predestinada a nunca acabar, a viver comigo até ao fim da minha morte. Porém, este sangue não se
apaga com um simples sopro do vento, muito menos com uma chuva que nem o lava. E o sentimento que lhe faz bater o coração, jamais vai desfalecer com a minha morte, vai continuar a apartar-me a alma, sem que ninguém deixe este amor desvanecer.
Continuo a trilhar um rumo para a minha sorte, de poder um dia concretizar este sentimento de tão longa duração e estima. Mas ninguém apaga esta paixão, que sinto por aquele ser, que me enche o coração preto, de roxo.
Não encontro mais nenhum significado nesta morte, poderei um dia voltar ao mundo aceso?
Nunca irei ter alguém, que partilhe o mesmo sentimento comigo, por isso, o mais inteligente a fazer é arrancar o coração e esvaziar o sangue das veias.
Já não tenho gosto de continuar a viver esta morte...